Uma das frases que a mim marcou literariamente, saiu da boca de um cineasta goiano, João Bênnio: “escrever não tem meio termo; é fácil ou impossível”.
Embora se utilizando de um advérbio que propõe dúvida ou possibilidade, o autor se opõe a Bênnio afirmando que “talvez não seja possível ensinar a escrever; mas é plenamente possível ensinar a aprender a escrever,” como se não houvesse “no escrever” a “mágica” da criação.
Interessante, porém, a relação que estabelece entre o escritor, leitor, crítico e autor nesse processo de escrever:
[...] “entre o pensamento e a expressão, vibra no ar um ser sutil, fátuo e que, terminada a frase, concluído o texto, se evapora. Nesse átimo, o escritor é escritor. Aí e somente aí.
“Depois, já é o primeiro leitor, o primeiro crítico de si mesmo e não mais escritor.”
“Explodida a bolha de sabão em que planava, começa a surgir o autor, essa derivação vaidosa e arrogante do escritor.”
“É o autor que imagina o efeito que seu texto produzirá sobre os outros, sobre a sociedade; é o autor que sente prazer em ver seu nome estampado na capa de uma obra qualquer; é o autor que se regozija com um comentário positivo da crítica, que se enfurece com o comentário negativo.”
A questão dos títulos:
“Não há escritor que não se debata com a difícil questão dos títulos de suas obras, sejam elas poemas, crônicas, contos, novelas ou romances. O título faz a primeira ponte com o mundo, é o primeiro gancho de interesse, a primeira luz do farol no nevoeiro. A obra está lá, enrodilhada em si mesma, mas escondida, e é preciso uma etiqueta, um visgo ou um guizo para que ela seja percebida pelo possível leitor.”
“[...] um bom título não salva um mau livro, mas um mau título pode prejudicar um bom livro.”
O plágio:
“Ninguém nasce escritor, torna-se escritor. E, às vezes, plagiando outros escritores. Como eu mesmo faço, neste instante, com a frase aí acima, surrupiada de Simone de Beauvoir, que afirmava que ninguém nascia mulher, tornava-se mulher.”
“E o plágio-plágio, o que seria? Aquilo que fez Paulo Coelho, denunciado por Moacyr Scliar? O mago publicou um conto de Franz Kafka como sendo dele, Coelho. Scliar não teve dúvida: publicou em fac-símile os dois textos, revelando a fraude.”
“Ou o que fez Shakespeare, que escrever apenas 1.899 versos dos 6.043 que são tidos como seus? Shakespeare não teve nenhum pudor em plagiar Robert Greene, Marlowe, Lodge, Peele, entre outros. E nem por isso o achincalhamos.”
Este é o questionamento essencial na leitura que faço sobre a obra de Charles Kiefer, já expresso no primeiro parágrafo desse artigo: “escrever não tem meio termo; é fácil ou impossível”. Ou se cria ou se plagia.
“Liberar dos ombros o peso da obrigação de ser original libera espaço para coisas mais importantes”, afirma Kiefer.“Os plagiários podem roubar nossas palavras e nossas idéias, mas não podem roubar nosso talento: esse é o seu desespero e o seu castigo” contrapõe Vargas Vila.
Ofício de escrever, ou arte em escrever?
Afirma o "professor de escritor" Charles Keifer, “basta mostrar-lhes que as palavras, como os tijolos, estão à espera do habilidoso construtor. Se com elas fazemos muros ou catedrais, é outra questão”. Por si só, a frase encerra o ofício de escrever ante a arte em escrever.
Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)

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