Lindo é o lugar onde as luzes da
cidade não apagam o brilho das estrelas. Lá a gente sentava na boca da noite com
os nossos pais que chamavam a oralidade histórias recheadas de ingredientes:
aventura, fantasia, mistério e medo. Ricas em personagens que nos levavam a
vaguear a imaginação: o marinheiro inglês Robson Crusoé, chapeuzinho vermelho,
o burrico voador, o nego d’água, dentre outras. Outro ‘mundo’ dentro do mundo. As
delícias infantis longe da realidade da adultez. Porém, o homem que caminhava
no tempo e no espaço resolveu a correr. E correu muito! Nessa corrida surgiu o
satélite, a televisão, a parabólica, o vídeo-game, o computador, a internet, as
redes sociais, o celular, o tablet, o smartphone e com eles se foi todo o
romantismo infantil. Até parece que as crianças de hoje já nascem adultas. Daí
o diferencial entre escrever para um adulto e escrever para uma criança.
Na literatura infantil asseveram
alguns historiadores que as histórias tradicionais não foram escritas
especificamente para crianças, faziam parte da ritualística cotidiana de
algumas comunidades trazendo mensagens de cunho moral e alerta a comportamentos inadequados.
A partir do século XII, autores como Giambattista Basile (1634), Perraut (1697)
e mais adiante Grimm (1812) fizeram o registro escrito dessa oralidade.
Valéria Belém desde muito cedo
mostrou a que veio. A facilidade com o manuseio das letras na construção de
palavras e estas com frases que expressavam seu pensamento vaticinavam seu
futuro: jornalista e escritora reconhecida e premiada nacionalmente. Editora dos
cadernos de cultura, magazine e almanaques no maior jornal do Centro-Oeste
brasileiro, além de mais de uma vintena de livros infantis publicados e adotados
pelo MEC – Ministério da Educação e Cultura – atestam o seu sucesso.
História da história – e outras
poesias - título tomado por empréstimo de uma poesia onde a autora trabalha a
questão da família cumpre esse primordial papel de educar, palavra de origem latina
educere com significado eduzir, isto é, criar valores e colocá-los
a disposição da sociedade. Como assevera Richard Bamberger, ‘O desenvolvimento
de interesse e hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que
principia no lar’ - muitas vezes através de fábulas, contação de história ou livros
infantis - ‘aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida afora
através das influências da atmosfera cultural e dos esforços conscientes da
educação e bibliotecas públicas’. Completado esse processo educacional com a instrução, isto é, trazendo para dentro
do indivíduo conhecimentos adjacentes - sujeito e objeto estarão contemplados -
o resultado é um homem integral, como diria o saudoso filósofo e professor
Huberto Rohden.
Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)

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