14 de maio de 2014

UTOPIA - o discurso e a prática \ Elder Rocha Lima - Brasília : Verano Editora, 2008.

Dentre os homenageados na 6ª FLIPIRI - Festa Literária de Pirenópolis - Elder Rocha Lima - arquiteto, pintor, desenhista, crítico de arte, artista gráfico, escritor e professor. Assim que levei o livro para o autógrafo disse: ”esse foi o meu primeiro livro, não gosto dele”, com um olhar querendo dizer: escolha outro. Foi então que respondi que o escolhi, exatamente, por ser o primeiro, toda a pureza de sua alma deverá estar condita nele. E está. Um livro onde a utopia é admitida, como o próprio autor relata, “uma proposta de vida alternativa, na qual rompemos com regras e princípios vigorantes e, mais ainda, se as utopias não são novas regras que forçosamente devam ser adotadas, são, pelo menos, experiências ou simulacro delas, merecedoras de estudo e meditação”. O autor ‘navega’ pela Esparta de Licurgo, República de Platão, Utopia de Thomas Morus, A Cidade do Sol de Campanella; pelos rotulados de socialistas utópicos, Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen; Etienne Cabet, autor de “Viagem a Icária” onde expressa claramente a influência de Morus; Ebenezer Howard, Le Corbusier, Frank Lloyd Wright que o autor os enquadra no que chamou de “Utopias Urbanísticas”. “Terra de Eldorado” que inspirou intelectuais europeus, como Francois Marie-Arouet, conhecido por Voltaire, a quem o autor faz uma fantástica interpretação de “Cândido e o Otimismo”. Analisa Palmares como a utopia dos escravos e Canudos como uma utopia sertaneja. Elder Rocha Lima referencia dois momentos históricos pouco explorados pela nossa historiografia: A Côlonia Cecília, criada no interior do Paraná pelo anarquista italiano Giovanni Rossi - agrônomo, musicista e escritor - autor de um opúsculo, “II Commune in Riva al Mare”, durante o Segundo Reinado, inclusive, com o incentivo, beneplácito e ajuda  de Pedro II, rendido aos encantos da obra de Rossi. A outra, a República dos Guaranis, 25 páginas de extensa pesquisa sobre o que considera ser “um dos capítulos mais gloriosos, instigantes e generosos da história do Brasil”. Sobre as Reduções o autor deixa na p. 88, uma visão lúcida, histórica, sociológica e antropológica de Darcy Ribeiro: “Essas utopias se opunham tão cruelmente ao projeto colonial que a guerra se instalou prontamente entre colonos e sacerdotes. De um lado, o colono, querendo por os braços índios a produzir o que os enricasse, ajudados por mundanos curas regulares dispostos a sacramentar a cidade terrena, dando a Deus o que é de Deus e ao rei o que ele reclamava. Foi um desastre, mesmo onde as missões se implantaram produtivas e até rentáveis para a própria Coroa - como ocorreu com as de Sete Povos, no Sul, e ao norte na missão tardia da Amazônia - prevaleceu a vontade do colono, que via nos índios a força de trabalho de que necessitava para prosperar”. Um livro didático no discurso e triste na historiografia prática pelo alto custo pago por aqueles que acreditaram numa possibilidade alternativa para a vida.


Luiz Humberto Carrião

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