Dentre os
homenageados na 6ª FLIPIRI - Festa Literária de Pirenópolis - Elder Rocha Lima - arquiteto, pintor, desenhista, crítico de arte, artista gráfico, escritor e
professor. Assim que levei o livro para o autógrafo disse: ”esse foi o meu primeiro livro, não gosto dele”, com
um olhar querendo dizer: escolha outro. Foi então que respondi que o escolhi,
exatamente, por ser o primeiro, toda a pureza de sua alma deverá estar condita
nele. E está. Um livro onde a utopia é admitida, como o próprio autor relata,
“uma proposta de vida alternativa, na qual rompemos com regras e princípios
vigorantes e, mais ainda, se as utopias não são novas regras que forçosamente
devam ser adotadas, são, pelo menos, experiências ou simulacro delas,
merecedoras de estudo e meditação”. O autor ‘navega’ pela Esparta de Licurgo,
República de Platão, Utopia de Thomas Morus, A Cidade do Sol de Campanella;
pelos rotulados de socialistas utópicos, Saint-Simon, Charles Fourier e Robert
Owen; Etienne Cabet, autor de “Viagem a Icária” onde expressa claramente a
influência de Morus; Ebenezer Howard, Le Corbusier, Frank Lloyd Wright que o
autor os enquadra no que chamou de “Utopias Urbanísticas”. “Terra de Eldorado”
que inspirou intelectuais europeus, como Francois Marie-Arouet, conhecido por
Voltaire, a quem o autor faz uma fantástica interpretação de “Cândido e o Otimismo”.
Analisa Palmares como a utopia dos escravos e Canudos como uma utopia
sertaneja. Elder Rocha Lima referencia dois momentos históricos pouco
explorados pela nossa historiografia: A Côlonia Cecília, criada no interior do
Paraná pelo anarquista italiano Giovanni Rossi - agrônomo, musicista e escritor
- autor de um opúsculo, “II Commune in Riva al Mare”, durante o Segundo
Reinado, inclusive, com o incentivo, beneplácito e ajuda de Pedro II, rendido aos encantos da obra de
Rossi. A outra, a República dos Guaranis, 25 páginas de extensa pesquisa sobre
o que considera ser “um dos capítulos mais gloriosos, instigantes e generosos
da história do Brasil”. Sobre as Reduções o autor deixa na p. 88, uma visão
lúcida, histórica, sociológica e antropológica de Darcy Ribeiro: “Essas utopias
se opunham tão cruelmente ao projeto colonial que a guerra se instalou
prontamente entre colonos e sacerdotes. De um lado, o colono, querendo por os
braços índios a produzir o que os enricasse, ajudados por mundanos curas
regulares dispostos a sacramentar a cidade terrena, dando a Deus o que é de
Deus e ao rei o que ele reclamava. Foi um desastre, mesmo onde as missões se
implantaram produtivas e até rentáveis para a própria Coroa - como ocorreu com
as de Sete Povos, no Sul, e ao norte na missão tardia da Amazônia - prevaleceu
a vontade do colono, que via nos índios a força de trabalho de que necessitava
para prosperar”. Um livro didático no discurso e triste na historiografia prática
pelo alto custo pago por aqueles que acreditaram numa possibilidade alternativa
para a vida.
Luiz Humberto Carrião

Nenhum comentário:
Postar um comentário