24 de janeiro de 2014

BEM-VINDO: Histórias com as cidades de nomes mais bonitos e misteriosos do Brasil / organização: Fabrício Carpinejar.- Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

Fabrício Carpinejar é poeta, escritor e jornalista. Ganhou os prêmios Jabuti 2009, APCA 2011 e Olavo Bilac 2003, entre outros. É apresentador da TV Gazeta, cronista do Jornal Zero Hora e comentarista da Rádio Gaúcha.

O livro utilizando-se de escritores consagrados, Fabrício Carpinejar, percorre o país através de histórias relacionadas com cidades com nomes interessantes e misteriosas como ele mesmo as intitula. Foi-me sugerido por uma funcionária da FNAC que colocava preços em livros para a promoção com elogios rasgados ao organizador.

Correndo os olhos sobre a obra logo um questionamento: como ter a ideia de organizar textos sobre essas localidades? No prefácio assinado por Roberto Pompeu de Toledo a explicação. Esclarece o prefaciador que em 2007, em sua coluna da revista Veja, escreveu sobre nomes das cidades brasileiras de nomes interessantes que chamou a atenção de  Carpinejar conduzindo-o à ideia do livro.

Bem – vindo: histórias com as cidades de nomes mais bonitos e misteriosos do Brasil têm sem sua organização dez textos extraordinários, sobre dez localidades brasileiras, assinados por Altair Martins, Cíntia Moscovich, João Anzanello Carrascoza, Luiz Ruffato, Luiz Vilela, Lígia Fagundes Teles, Marçal Aquino, Maria Ester Maciel, Ronaldo Correia Brito e Sérgio Faraco.


Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)

23 de janeiro de 2014

VAMPIRO DE CURITIBA / Dalton Trevisan.- 32ª ed. Ver. – Rio de Janeiro: Record, 2012.

Dalton Jerson Trevisan, curitibano nascido a 14 de junho de 1925, reconhecido pela crítica como um dos principais contistas da literatura brasileira. É famoso pela sua obra e por sua natureza reclusa – avesso a entrevistas e exposição na mídia.

O livro é composto por quinze contos caracterizados pela narrativa curta e riqueza de detalhes, por onde transita o personagem Nelsinho, um jovem curitibano de vinte anos de idade, caracterizado pelo bigode ‘a la Clark Gable’, obcecado por sexo, o que o leva a perseguir mulheres jovens, adultas e idosas, onde tudo, desde a roupa até um lábio molhado de saliva pela ponta língua é motivo de desejo, embora mantenha-se numa enclausurada solidão.

Livro que pela sua 32ª edição fala mais que qualquer comentário.


Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br) 

12 de janeiro de 2014

KAFKA E A MARCA DO CORVO: romance biográfico sobre a vida e o tempo de Franz Kafka / Jeanette Rozsas. – São Paulo: Geração Editorial, 2009.

Literatura e Psicanálise – existe relação entre elas? Uma coisa é certa, a literatura pré-existe à psicanálise. Depois, Gilcia Gil Becker assevera que ‘como fruto da subjetividade e forma sublimatória da pulsão, a literatura fornece preciosos elementos para análise das manifestações inconscientes’, reporta a Freud ‘que sempre reconheceu o quanto a arte e a literatura anteciparam e confirmaram as descobertas da clínica psicanalítica’. O grego Sófocles que o diga!

Jeanette Rozsas nos coloca como psicanalista numa cadeira ao lado de um divã onde Franz Kafka se dispõe a falar de sua infância interrompida, de sua adolescência roubada, das invalidações, de sua mente inquieta. Na adultez, os esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginário; relacionamentos instáveis; perturbação de identidade com resistência a autoimagem; recorrência a pensamentos suicidas; instabilidade afetiva; sentimento crônico de vazio.

Não se trata de obra de ficção. Jeanette construiu os diálogos com esmero cuidado na seleção de cartas e diários do biografado e seus amigos mais próximos. Traz desde a sua introdução um extraordinário texto descritivo sobre a cidade de Praga do quarto quartel do século XIX. Texto que se prende aos detalhes valorizando as mínimas coisas. Uma paisagem que se confunde com o próprio Kafka. Praga e Kafka se fundiram em uma só entidade. A beleza de sua obra acabou por adornar uma joia esculpida pelos mais belos artistas do Império Austro-Húngaro, a cidade velha de Praga.

A autora começa a projetar a personalidade de Kafka a partir da realidade vivida pelo seu pai, Hermann Kafka, em sua convivência familiar na infância e adolescência; sua ida para a cidade de Praga onde conheceu Julie, que mais tarde lhe daria três filhos do sexo masculino: Franz, Georg e Heinrich, dos quais somente Franz Kafka sobreviveu. Na primeira vez que viu o filho Franz, Hermann o rejeitou por não se tratar da criança esperada. Ao invés de um brutamonte, forte, corado, guloso, que chorasse aos plenos pulmões dia e noite, característica dos ‘Kafka’, Franz era uma menino miúdo, magro, quieto, chorava quando com fome, de boa índole e com os cabelos pretos como os da família de sua mãe, os Löwy. Georg, o segundo filho, nasceu com todas as características desejadas por Hermann, que em momento algum se preocupou com sua preferência a Georg que, morreu de sarampo ainda na infância. Heinrich não era franzino como Franz e nem um brutamente como Georg, também morreu na infância com otite. Duas perdas para Franz, notadamente, Heinrich a quem era muito apegado. Seguiu-se a cobrança de Hermann sobre Julie na busca de outro filho, de outro Georg. Achava Franz um fracote. Muitas vezes chegava a falar para o menino ouvir que ele deveria ter nascido menina. E nesses momentos exarava a frase: _Ah! Se Georg não tivesse morrido... Invalidação total. Outras vezes quando da presença de visitas, chegava a afagar o filho, que de medo se encolhia. Nesse momento dizia aos convidados: _Vejam como o meu filho é medroso. Basta por a mão em sua cabeça que ele encolhe como um ratinho! E explodia em gargalhada deixando o pequeno Franz mortificado de vergonha. Outras vezes diante dos irmãos Hermann gritava para Julie ouvir: _Isso Julie, carregue o menino agarrado à sua saia e você terá um mariquinha para criar. Enquanto as risadas do pai explodiam como trovões, o pequeno Franz lutava contra as lágrimas. Isso não deixava de ser um abuso em referência à sexualidade do menino. Os reflexos vieram ao longo de sua efêmera existência.  Um livro necessário à estante de psicólogos, psiquiatras, psicanalistas. Em ‘Kafka e a marca do corvo’ o leitor não deixa de ser um analista num romance biográfico que revela toda a subjetividade humana.


Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)